João Cabral de Melo Neto
A uma se diz cal
viva: a uma, morta;
uma, de ação até
o ponto de ativista,
passa de pura a
purista e daí passa
a depurar
(destruindo o que purifica).
E uma, nada
purista e só construtora,
trabalha
apagadamente e sem cronista:
mais modesta que
servente de pedreiro
aquém de salário
mínimo, de nortista
Uma cal sai por
aí tudo, vestindo tudo
com o
algodãozinho alvo de sua camisa,
de uma camisa
que, ao vestir de fresco,
veste de claro e
de novo, e reperfila;
e nas vezes de
vestir parede de adobe,
ou de taipa, de
terra crua ou de argila.
essa cal lhe
constrói um perfil afiado,
uma quina pura,
quase de pedra cantaria.
Uma cal não sai:
se referve em caieiras
se apurando sem
fim a corrosão e a ira,
o purismo e a
intolerância inquisidora,
de beata e
gramatical, somente punitiva;
see a deixassem
sair, sairia roendo tudo
(de tudo, e até
de coisas nem nascidas),
e no fim roídas
as fichas e indicadores,
se roeria os
dentes: enfim autopolícia.
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