domingo, 7 de julho de 2013

Ontem no Sarau

Ontem, apesar de fechadas as portas do Cineteatro, o sarau bombou!
Ficamos do lado de fora da biblioteca. Confira algumas fotos aqui.
Recebemos o poeta convidado Antonio Ladeira, que apresentou os poemas de "O livro das flores amarelas", sua primeira obra literária do poeta Antonio Ladeira. Residente e nascido no Rio de Janeiro, escreve poemas desde os 11 anos, tendo-os publicado em revistas eletrônicas e antologias até então. As “flores amarelas” saíram das mãos de um rapaz que sente dor. São o registro artístico e preciso do amor conturbado da vida de um jovem. Tendo sido escrito em três meses e meio, ele marca o início da paixão até o seu fim em um envolvente murchar de flores. O conjunto abrange mais de 70 poemas escritos em ordem cronológica, uma coleção de 10 haikais e 2 ensaios escritos de setembro a dezembro de 2012. Confira o ebook de Antonio Ladeira na Amazon.
Contamos também com a participação especialíssima de Brigitte Bentolila, que apresentou as traduções para o francês dos poemas do livro "Outra - poesia reunida no Sarau de Manguinhos"
Leram com Brigitte nossos poetas, Maura Santiago, Elesbão Ribeiro, Adriana Kairos e José Pereira Dias.
Nossa amiga Maria Lúcia, que visitou o sarau pela primeira vez, leu poemas de Monique Nix, que também foram traduzidos por Brigitte.
Marcou presença também Guinho Frazão, que em breve estará participando como poeta convidado do Sarau.
Deo leu um poema que detona com a herança política brasileira.
E Oswaldo Martins lembrou onde está a poesia carioca, com sua "antiode para ipanema et caterva", já publicada aqui e no TextoTerritório. Oswaldo ainda teve poemas de seu livro "Lucidez do oco", lidos por Marly Bisppo.
Termindo o Sarau, todos ficaram. Com jeito de "quero mais".

Poema lido por Oswaldo Martins no Sarau TextoTerritório de Manguinhos

antiode para ipanema et caterva

dizem poesia
quando o sol se põe nas areias de ipanema
quando as moças passeiam nas areias das ipanemas leblons copacabanas

dizem poesia
quando as mil e uma invenções dos poetas das ipanemas leblons copacabanas elegem-se ao abrigo das barracas bonitinhas das palavras e as douram ao  sol e o aplaudem atônitos desta beleza fugaz

dizem poesia
quando passeiam e se encantam, coitados, com o espetáculo provinciano de montanha e mar e de uns para outros sorriem e colecionam autógrafos e afagos para a posteridade

dizem poesia
quando se romantizam
quando sucumbem de afasia
quando se vestem senhores poetas
quando sucumbem sob o olhar das bem amadas
quando sucumbem ao ai jesus aos credos variados das musas

dizem poesia
e esquecem de mandela
e como se falassem cowboys dos botecos de esquina
usam no coldre os poemas do sr. erza pound et ali
usam no coldre a cultura do ouvir dizer e as balas e o mastim

dizem poesia
e esquecem das mandelas dos jacarés das vila-cruzeiros
e como se falassem da gruta alheia no máximo se embelezam com as belezas das belezas de elza soares, quando canta, voz de nós, que o haiti é aqui e não nas salas apalacetadas da poesia de classe média e provincial
da poesia pedro bial
da poesia pedro chacal
da poesia pedro cabral
da poesia au au au

dizem poesia
e esquecem as praças impudicas da república esburacada
as praças impudicas da república no mato e só aplaudem a polícia
quando o mastim está adornado do exotismo dona marta do exotismo vidigal  do exotismo salve salve das rocinhas do exotismo da domesticação a ponto de bala e cavalaria a ponto de bala e dança que vê que o filho –  que não foge à luta – anda nos cárceres da república

dizem poesia
e cantam na praça contra o voto popular disfarçados de pequenos rufiões da beleza

dizem poesia
e cantam na praça contra os micro vestidos do funk como cantaram contra as umbigadas de antanho para que a mordida das sublimes cachorras não lhes arranque do lugar sossego em que se encostaram

dizem poesia
e são o encosto do vago sentimento do alto risível da grande poesia

dizem poesia
e são o escombro da cidade

dizem poesia
e beijam o pé da musa citadina de ipanema  et caterva
poetas de si mesmos e de seus asseclas que fazem propaganda competente e vendem a cidade para o uso de ninguém


(oswaldo martins)